![]() |
Uma semana "suada" que valeu bem a pena... |
Numa calma tarde de Março, entre boa companhia, contos de historias passadas , mentiras vividas e algumas Laurentinas toca o telefone com um daqueles numeros compridos, com indicativos estranhos, prenuncio de chamada de outras paragens...
"Inchicane mulungo!"
...num Machangana atrapalhado em tons de saudade de Africa e um sotaque tipico de quem vive algures em Italia..."...recordas-te daquele crocodilo que vimos o ano passado? Este ano quero um igual!"
Conheci o Joe no ano anterior, que na
altura acompanhava um amigo num safari a um tal elefante em Chemba, na Provincia de
Sofala...mais tarde nesse mesmo ano e após longas conversas matinais arrastadas pela noite a dentro por
alguns camarões ou uma ou outra matapa de caragueijo ao sabor de um bom branco
ou verde fresco, acabei por guia-lo numa caçada muito "particular" a
um Mvuhu zambeziano...digo "particular" porque se existe uma
defenição de caçador de aventura, ao Joe assentar-lhe-ia como uma segunda pele
se não mesmo como a personificação do termo em carne e osso!!!
"Nuno...aqueles "Ingwenhas"...aqueles
do Delta...não sei... ficaram-me na memória!!!Se tiveres tempo para mim este ano,
adorava ter a oportunidade de tentar um...mas da mesma forma que o
hipopotamo!", findas estas palavras e com o que se avizinhava era mandatorio
pedir mais uma cerveja...ou duas... para empurrar a conversa fiada que ali se
desenrolava...
![]() |
Margens do Delta do Zambeze - Chiramba Moçambique |
Tomadas as devidas diligencias, os preparativos foram curtos como é apanagio deste homem cuja a unica exigencia é passar o cada minuto no mato e cujas mordomias são uma rede mosquiteira e uma capulana para dormir onde calhe, ou onde o sono vencer a alma pois o corpo, esse certamente ficará longe, batido pelo cansaço de horas continuas em caminhadas sem fim...
Em finais de Abril, e passadas algumas
horas sob a egide das tecnologias deste seculo por entre teclados e ecrans e
uma ou outra chamada telefonica daquele vil aparelho portatil destruidor de
privacidades e noites bem dormidas, já o sol nascia com vista para o Zambezi, acordando o rio que o acolhe com cores e tons indiscritiveis iluminando uma paisagem
repleta de sons e melodias matinais que rompe abruptamente o silencio da
madrugada...
![]() |
Nascer do Sol no Delta |
Após o ultimo descanso, sempre falso, pois
a emoção deixa-se adivinhar em olhos que não se fecham e num revoltear de um
lado para o outro pelo colchão estranho de uma cama empresta, qual pouso
noturno numa terra longinqua... é tempo
de partir ,rio a dentro á procura do crocodilo do Joe...
Agua, alguma comida, redes
mosquiteiras e um ou outro cobertor juntam-se ás armas, munições e restante
equipamento de caça...viajamos leves...com o Joe é assim, simplicidade acima de
tudo, apenas com o essencial para uma caça pura em comunhão com a terra que viu
nascer a vida...caminhar, sentir, ver, ouvir e acima de tudo viver a caça...de uma
forma pura como já pouco se faz hoje em dia...um regresso ás origens, á
liberdade dos grandes espaços, ao cheiro da terra virgem, sem gente, sem
vedações, sem doutrinas, livre de toda aquela dialectica humana que nos
condiciona dia a dia...o objectivo aqui é o lance, a peça e as memórias que
perduraram até aos ultimos dias...nada mais...isto sim é caçar!
![]() |
Tiago Muienga, barqueiro, pisteiro e bom homem! |
Deslizamos no rio pelas mãos do Tiago, o
nosso barqueiro nesta jornada...humilde de natureza, aqui cresceu e trabalhou
com o Pai, ora na faina ora na machamba em alguma ilha mais fertil neste
labirinto de formas e curvas sem fim ao qual conhece cada margem e cada curva
como quem conhece os cantos da sua casa...
“Ingwenha patrão? Humm...lá...longe nas areias...maningue!!!”
Esta aventura tem um outro objectivo associado...não só o reptil que desde o ano anterior assaltava os sonhos do Joe como um personagem não planeado das suas peliculas noturnas roubando-lhe o sono por mais de uma vez mas tambem a procura de uma prenda especial para a moça da sua afeição...uma pedra...uma pedra original, unica e diferente, foi aquilo que a sua Dulcineia lhe tinha pedido como espolio desta incursão pelas Africas e a qual o nosso Quixote tomou como cruzada juntando o util ao agradavél pois á falta de maxilares para mastigar a refeição, os crocodilos engolem pedras que depois de depositadas no estomago os ajudam a desfazer a carne das suas presas... estas rochas dão por vezes magnificos adornos, e reza a tradição que protegem o caçador dos mais variados muloís, de facto um poderoso xicuembo sem duvida merecedor de um lugar ao peito da afamada donzela.
“Ingwenha patrão? Humm...lá...longe nas areias...maningue!!!”
Esta aventura tem um outro objectivo associado...não só o reptil que desde o ano anterior assaltava os sonhos do Joe como um personagem não planeado das suas peliculas noturnas roubando-lhe o sono por mais de uma vez mas tambem a procura de uma prenda especial para a moça da sua afeição...uma pedra...uma pedra original, unica e diferente, foi aquilo que a sua Dulcineia lhe tinha pedido como espolio desta incursão pelas Africas e a qual o nosso Quixote tomou como cruzada juntando o util ao agradavél pois á falta de maxilares para mastigar a refeição, os crocodilos engolem pedras que depois de depositadas no estomago os ajudam a desfazer a carne das suas presas... estas rochas dão por vezes magnificos adornos, e reza a tradição que protegem o caçador dos mais variados muloís, de facto um poderoso xicuembo sem duvida merecedor de um lugar ao peito da afamada donzela.
![]() |
Mvuhu, ou o cavalo do rio... |